Reserva Florestal

Azmaria soltou a mão de Juliete logo que viu as outras ninfas, levando a costa da mão ao rosto para amenizar o cheiro de fumaça que lhe impregnava as narinas. Seu pensamento inicial foi de receio: havia muito mais ninfas ali do que imaginava antes, pois embora estivesse na Reserva há algum tempo, passara-o sozinha até hoje. "Ótimo", pensou, embora não tivesse a mínima ideia de como seria trabalhar em grupo.

Ainda assim, Az parou e deu uma bela de uma encarada na ninfa acenando às três, a mesma ninfa do pirulito que ignorara sua pergunta na praça, e ouvir uma ordem dela piorou ainda mais o olhar sério. Mesmo naquele momento de tensão, receber ordens é tudo o que Azmaria menos gostaria que acontecesse. Por sorte dessa vez tinham o mesmo objetivo, por isso Az relevou...

- Vocês duas conseguem sozinhas?! - gritou para Ageha à distância, tirando o braço do rosto momentaneamente para a voz não sair abafada - Não se preocupem conosco. Esse fogo já está os seus minutos contados!

Azmaria empunhou seu espelho de mão, antes preso ao seu colar. Era o seu talismã da sorte sempre que precisava usar os seus poderes, e como terra sobre fogo o abafa e o apaga, Azmaria já começava a estar confiante na utilidade de suas habilidades ali. Olhou para Akemi e Juliete e disse:

- A natureza é mais antiga que o mal e nós somos herdeiras dessa força. Vamos proteger nossa Mãe - referindo-se à mãe-natureza - e assim nada perturbará a paz na Reserva, certo?
Não esperou muito que respondessem, mas esperava que a seguissem quando levou a costa da mão esquerda novamente à frente do nariz e, segurando o espelho com a mão direita, correu em direção ao lado direito, para onde Ageha apontara, pronta para combater o fogo como pudesse.

Quando a visão no meio da fumaça já não era tão turva, Azmaria não pôde esconder a surpresa ao ver a ninfa (Sabina) em meio às chamas, naquela demonstração nítida e desnecessária de crueldade. E o que era pior, era um sadismo praticado com tanta naturalidade quanto a própria Az costuma brincar com o elemento o qual controla. Mas ali era diferente... Por mais que Azmaria soubesse o quanto era precioso manter em segredo a Reserva Florestal e o Mundo Sobrenatural, dava para perceber que nenhum dos humanos estava atacando, que nenhum representava perigo ou revidava: estavam sofrendo. Poderiam até mesmo ter se perdido e por acidente pararam ali... qualquer coisa assim.

- O que está fazendo?! - gritou para ela - Não vê que está destruindo tudo?! Nenhuma vida merece ser tomada dessa forma, há outras maneiras de lidar com eles! Pare com isso ou eu paro você!

Assim Az ficou de pé por um momento, estarrecida ao pensar como uma ninfa, nascida para proteger a natureza a estava ferindo daquele jeito: ferindo as árvores cujas folhas agora queimadas outrora balançavam à relva, ferindo o solo donde não mais poderão brotar as sementes natimortas, ferindo os animais, as ninhadas de pássaros, tocas de roedores, abrigos... Como poderia uma entidade nascida para a pureza provocar tamanha destruição? E ainda havia os três humanos cercados pelo fogo. Quantos deles não tinham esposas e filhos esperando que voltassem para o lar ao fim do dia? O lar, o que havia de mais sagrado para qualquer um, seja humano ou ninfa... aqueles três jamais retornariam aos deles se a ninfa continuasse aquele ataque.

Esse pensamento abalou Azmaria que em resposta agachou-se, tocando um joelho ao chão e a mão no solo para senti-lo. Era um momento íntimo, o instante em que Azmaria pedia as bênçãos e a proteção da terra ao mesmo tempo em que pedia permissão para utilizá-la, para manipulá-la a fim de que cessasse aquela destruição toda. Sim, Azmaria precisava dessa permissão, pois os próprios ataques de terra levam consigo as sementes plantadas que jamais voltam a brotar. Uma vez com essa permissão, nada deteria Azmaria, nem mesmo uma ninfa piromaníaca.
Uma coisa era certa: se não detivessem a fonte do Fogo ele jamais se extinguiria e acabaria matando os três humanos. A fonte era ela, logo, o combate já estava iniciado.

Segurando o cabo do espelho com as duas mãos, Azmaria levantou-se ao mesmo tempo em que desferia com força um movimento com ele rente ao solo, concentrando-se para arrastar a terra sólida e dura formando uma pequena onda de terra na direção de Sabina. O dano poderia ser mais que suficiente para detê-la ou, na pior das opções, serviria apenas para medir o nível de poder dela caso resistisse. A onda era pequena e não havia risco de ter alcance longo o suficiente para passar por Sabina e acertar por acidente as pessoas atrás dela rodeadas pelo fogo.

Az até ficou satisfeita quando viu que sua onda de ataque terreno tinha surtido efeito... porém, a pequena Akemi havia corrido para perto de Sabina e também se feriu. Os olhos de Az tremularam por aqueles intermináveis segundos com a possibilidade de ter causado ferimentos graves à aliada...

- Não... - sussurrou ao ver a cena. "Não era para ela ter feito isso", pensou. Agora além de ela estar perto demais do incêndio e da ninfa do fogo, ainda impediria a própria Az de repetir o mesmo ataque com medo de feri-la novamente, posto que Az concluíra que Sabina não tinha tanta resistência física assim, além da sua grande habilidade com fogo, e que um segundo ataque seria tão efetivo quanto o primeiro. Ao menos Akemi não se ferira tanto quanto poderia.

- Sua preocupação é eles saberem de nós?! - Gritou, já pensando no que iria fazer em seu segundo ataque. Uma mudança de planos seria necessária, mas uma coisa era certa: se Azmaria puder ser a única a correr perigo em vez de expor Akemi e Juliette ou aquelas pessoas, ela assim o fará - E uma única ninfa com poder psíquico não pode fazê-los esquecer o que viram? Não tente explicar sua crueldade com desculpas!

Esperava, do fundo do coração, que a ninfa parasse para pensar nessa possibilidade e detivesse o incêndio. Esperava isso, mas não esperaria sem investir, pois ao ver que Juliette também iniciara um ataque direto à ninfa do fogo, Azmaria deu um breve sorriso para a amiga com poderes de água, o que era bem útil naquela situação e até tranquilizou um pouco mais os batimentos acelerados após o susto ao ver Akemi correr perigo.

Azmaria inspirou profundamente e expirou antes de segurar com a força das duas mãos o cabo do espelho de mão inquebrável que trazia consigo e logo suas pernas responderam ao seu plano e correram, avançando em linha reta em direção à Sabina logo após o ataque de Juliette que, se tivesse efeito, serviria para desequilibrar ou atordoar a ninfa do fogo e deixá-la vulnerável para o ataque de Az.

Em sua corrida escorou para o lado Akemi ao passar por ela, o sufiente para afastá-la:
- Eu e Julie cuidamos dela! Tire aquelas pessoas de perto do fogo! - gritou mais alto do que pretendia à pequena Akemi, mas isso porque seu coração banhado em ímpeto martelava infrene sob o peito e tentava reunir dos braços o máximo de forças que tinha para impulsionar com as mãos firmes seu espelho e com as costas dele bater em Sabina, num ataque físico frontal.